A fuga de substâncias de radioactivas na central nuclear de Fukushima Daiichi foi confirmada hoje pela Agência Atómica Internacional. O acidente é de nível 6 de gravidade, numa escala de 7. A agência mantém no entanto a posição de que é "muito improvável" que se atinja o grau de gravidade de Chernobyl. O governo japonês pede à população que abandone o local.
Uma terceira explosão na central nuclear de Fukushima Daiichi desencadeou ontem uma crise nuclear no Japão - na sequência do sismo de 8,9 na escala de Richter que, na sexta-feira, abalou o gigante asiático e provocou um tsunami que varreu a costa noroeste do país. A juntar aos dois reactores da central a norte de Tóquio, que não estão a ser refrigerados convenientemente, o incidente de ontem num terceiro reactor provocou 11 feridos e veio aumentar o receio de que a radiação libertada para a atmosfera venha a provocar um desastre nuclear de grande dimensão.
O sismo mais forte dos últimos 140 anos pôs o Japão de joelhos e uma potencial crise nuclear continua no centro das atenções. As autoridades japonesas continuam a tentar refrigerar os reactores com água salgada para impedir que os níveis de radiação aumentem, mas mantêm que, para já, a situação está controlada. Contudo, ontem a Autoridade de Segurança Nuclear (ASN) de França veio alertar para a gravidade do incidente, que os especialistas dizem estar a ser diminuída pelo governo. Na escala de classificação de acidentes nucleares (de 1 a 7), a agência nuclear nipónica coloca estas explosões no nível quatro. "O nível quatro é sério. Mas nós achamos que este [incidente] se situa no nível cinco ou talvez seis", sublinhou André-Claude Lacoste, presidente da ASN.
"Mais perigoso do que [o acidente de] Three Miles Island, sem chegar [ao nível] de Chernobyl" foi a expressão usada por Lacoste para classificar o incidente de Fukushima. O acidente de Three Miles Island remonta a 1979, quando o reactor número dois dessa central nuclear na Pensilvânia derreteu e provocou o pior acidente do género na história dos EUA. Os níveis de radioactividade subiram oito vezes acima do nível mínimo letal. Nos dois anos seguintes foi registado um nível elevado de mortalidade infantil nas comunidades próximas da central. O incidente é tido como o principal responsável pela redução do número de centrais nucleares construídas nas décadas seguintes em todo o mundo.
Parece certo que a crise nuclear japonesa não se revestirá das proporções do desastre de Chernobyl - o desastre na central nuclear ucraniana (então na URSS) em 1986 provocou a libertação de material radioactivo 400 vezes superior ao que foi libertado pela bomba atómica que atingiu Hiroshima na II Guerra Mundial.
Para além da ANS francesa, a Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA) veio ontem referir que o acidente no complexo nuclear japonês dificilmente atingirá essas proporções, sublinhando que há diferenças fulcrais entre a estrutura e o desenho dos reactores da central da antiga União Soviética e os do complexo japonês.
Desde sexta-feira, as comparações deste incidente com Chernobyl têm-se multiplicado, sobretudo devido aos níveis anormais de radiação que poderão ser libertados para a atmosfera. Depois da explosão do primeiro reactor nuclear de Fukushima, as autoridades começaram a evacuar os cerca de 185 mil habitantes próximos da central, dando início à distribuição de 230 mil unidades de iodo estável nos abrigos improvisados, que ajudam a proteger contra o cancro na tiróide provocado pela exposição à radiação. Contudo, a AIEA informava ontem que "o iodo ainda não foi administrado às pessoas" e que "a distribuição é uma medida de precaução". O nível de radiação em torno da central é, neste momento, oito vezes superior ao normal. Ainda assim, a agência e o comité científico da ONU dizem que, "de momento, do ponto de vista de saúde pública, em nenhum caso representa ameaça à vida". A explicação foi dada ontem por Malcolm Crick, da secretaria do comité, à agência EFE. "Não prevemos qualquer impacto na saúde humana para já", mas "a situação ainda é muito grave", adiantou.
Europa em prevenção O provérbio português ''gato escaldado de água fria tem medo'' é mais do que adequado em incidentes nucleares. Se Chernobyl e Three Miles Island potenciaram a diminuição do recurso à energia atómica na URSS e nos EUA, o mesmo parece estar a acontecer no Japão - e também na Europa. Ontem, Alemanha e Suíça foram os primeiros países do continente a repensar a sua estratégia nuclear como medida preventiva. A chanceler alemã, Angela Merkel, veio anunciar uma moratória de três meses na decisão já adoptada pelo governo de prolongar a vida das centrais nucleares do país. "Não há tabu algum no que toca à análise das condições de segurança", sublinhou Merkel. A Suíça também suspendeu os seus projectos nucleares por tempo indefinido.
Fonte: ionline
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